sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Ruslan - parte I

Ruslan era uma cidade com aspecto de vila. Na verdade, com traços de comuna renascentista. Suas cerca de seis centenas de moradores vivam do comércio de alimentos e de uma rudimentar industria textil baseada na matéria prima dos campos ao redor. Viviam lá quatro jovens. Anne, Marc, Berg e Viga. Noite estrelada de setembro, sexta-feira.

Viga:
- Você realmente pensa em escolher isto para sua vida? Por que?

Berg:
- Porque sim. É tão ruim esta condição?

Viga:
- Após viver uma juventude de perspectivas tão boas, escolher este caminho me parece, sinceramente algo subestimável.

Berg:
- Não vejo desta forma. Assim escolho. - E assim, Berg tornava-se um soldado.

Três meses depois, estourava a guerra no país. O regimento de Ruslan contava com Berg como soldado, junto com mais outros duzentos e cinquenta. Apenas trinta sobreviveram após intensas e desiguais batalhas. Rumaram de volta à Ruslan, no intento de protege-la.

Incrivelmente, Berg agora era o líder dos soldados, dos remanescentes. Chegando em Ruslan, uma reunião foi marcada para o celeiro da casa dos tios de Berg, uma grande construção onde cabiam os cerca de cento e cinquenta adultos que restavam.

Marc era astuto e sabia falar bem. Defendeu que vivessem em paz:
- Vamos nos manter em paz. Mandaremos emissários para as tropas inimigas dizendo que nos retiramos da guerra porque não nos reconhecemos nos ideais do país pelo qual lutamos até agora. A guerra apenas nos trouxe a morte de centenas dos nosso e queremos nos retirar delas.

Viga concordou. As idéias da garota contra o militarismo eram perfeitamente compatíveis com o que disse Marc. Vivam em um país expansionista e não estavam satisfeitos. A independência e a paz eram a solução. Berg ficou acuado, defendia que deveriam resistir até o último morador.

Enviaram os emissários e cada morador foi para sua casa.

Caiu a noite na cidade e quando chegou a madrugada, chegavam os emissários. Procuraram pelo comandante Berg:

- Senhor, riram de nossas propostas. Tanto tropas inimigas como as de nosso próprio país resolveram que nossa posição é absurda e que estão vindo pra cá. E agora?

Berg:
- Devemos tentar resistir. Para evitar o pânico, faremos uma reunião agora com os soldados e prepararemos a resistência dando instruções básicas aos moradores. Chame Marc e Viga também.

Marc e Viga se recusaram! Princípios devem ser seguidos até a morte. Não queriam a guerra e que morressem como exemplo!

Enquanto a reunião se extendia, o povo dormia. Mas Anne despertou. Algo estava errado, pensava ela. Decidiu que deveria deixar a cidade imediatamente. A cidade desmobilizada, seria alvo fácil para qualquer regimento militar. Anne era uma das poucas pessoas na cidade que sabiam ler e talvez a unica que não se considerasse cristã. Não havia quem deixar para traz na cidade, mas seus livros fariam falta. Infelizmente não podia leva-los, mas levava-os em sua mente e em seu coração.

Anne partiu em silencio, saiu de sua casa e atravessou quarteirões tentando não ser vista pelos poucos soldados que tentavam montar guarda. Enfim saiu, refugiou-se em uma caverna não muito longe e se alimentou das frutas que colheu pelo caminho.

A reunião acabara. Era tarde, quase que imediatamente a cidade foi invadida e incendiada. Os aldeões tomaram a decisão errada e pagaram com a vida. Os soldados foram vacilantes demais e nada puderam fazer.

Berg:
- Oh.. Morro uma vez em razão dos ferimentos, mas morro inumeras outras vezes pela ferida que trouxe ao meu coração com seu ato de traição. Por que? POR QUE? Por..ahh.. - morre.

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