sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Travessia serena pelas sombras

Melancolia, tristeza e nostalgia, mas uma nostalgia orfã, saudades daquilo que existiu apenas em pensamento porque a realmente é sempre mais crua do que a capacidade de fantasiar e anestesiar de nossa mente, dopando nossas sensações. Esta é a paisagem da travessia serena pelas sombras, cujo chão é coberto de lágrimas e o céu é estrelado e repleto de estrelas cadentes desprovidas de esperança.

Não há nada para se fazer nesta travessia senão observar, olhar ao redor com a dolorosa consciência de que a vida é finita e deve ser intensa. Não quero que ela se finde, não durante a longa travessia por este vale tão pesaroso, mas não há qualquer escolha, é como quando você é um garoto em um carro durante uma viagem chuvosa, no banco traseiro. As gotas atravessam o vidro, todas elas acabam por se dissipar durante a travessia, mas nunca se sabe em qual parte delas. Somos apenas gotas que no início nos sentimentos protegidos em uma nuvem ou junto de outras gotas e nos percebemos sozinhos, atraídos por uma trama desencadeada sem escolhas pela força da gravidade.

Nesta caminhada o desânimo se pega pelo ar de maneira quase inevitável. Os revézes se amontoam e falam alto, ganham a magnitude e a imponência de grandes construções inquebráveis que possuem a desolação como estilo padrão.

- Por que a travessia não termina?

- Não pergunte, apenas curta cada pequeno detalhe cada grão que espezinha como agulha ao som inseparável da rádio novela mais longa da história, transmitida em ritmo cadenciado porém infalivelmente contínuo em loop dando voltas e voltas sem pressa, doentío, imparável e perturbador de tal modo que quando dormir seus sonhos serão a continuação dela e quando acordar, perceberá que o pesadelo permanece. Não há para onde ir, apenas espere, apenas aprenda a curtir tudo isso.

...E segue a travessia pelas sombras. Mas não se preocupe tanto, eu sou tua companhia e sempre serei enquanto existires.