quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Como me vejo



Assim como qualquer pessoa, tenho qualidades e defeitos. No entanto, penso que minha virtude está na curiosidade que me faz ter sede de conhecimento. Não preciso mentir: não gosto de ler, acho um saco, como a maioria. Mas o faço porque quero saber, quero entender. Comecei esse parágrafo dizendo "Assim como qualquer pessoa", mas leio porque não quero ser apenas "qualquer pessoa".

Também acho uma porcaria ter que acordar cedo. Nunca estou sorrindo quando coloco o despertador do celular para tocar às seis e muito menos quando acordo sabendo que a manhã será longa. Mas gosto de trabalhar porque acredito que é na dedicação e no esforço de cada dia de aulas que você passa a se sentir uma pessoa respeitável e valorosa. É quando percebo que tudo aquilo que minha curiosidade me instigou a aprender terá utilidade e proporcionará que outros possam aprender.

Quando comecei a morar sozinho, no começo de 2006, não imaginava quantas coisas aconteceriam, mas vejo que compreendi a importância de respeitar os demais, de correr atrás de tudo o que eu quero, de ser organizado, sempre preparado para o pior e para o melhor e principalmente nunca perder tempo reclamando. 

Dias bons e dias ruins acontecem na vida de todos. Estar triste ou estar feliz são momentos que fazem parte do dia a dia e por isso são emoções das quais não se deve fugir. Quem enfrenta todas as situações se torna cada vez mais forte, se recicla e evolui.

Não sou pacato. Não espero nem um pouco que algum dia, daqui uns cinquenta anos, os conhecidos me encontrem e digam: "lá se vai o Felipe, que trabalhou, estudou e agora desfruta uma vida de aposentado." Não sou assim. Ser comum não é meu foco. Quero sempre ser o melhor naquilo que eu faço e luto por isso. Sou ambicioso? Sim, mas quando nascemos como seres humanos, aprendemos que cada um de nós é único e livre para ser como quiser. Não acho que devemos abrir mão disso e viver como formiguinhas, todas iguais no formigueiro.

domingo, 21 de março de 2010

O vazio do fim

Hoje pode representar o fim de um ciclo de dois anos, dois meses e onze dias. É sempre chato pensar que as coisas podem terminar um dia. Quando peguei meus gatos sabia, por exemplo, que eles morreriam algum dia - que espero estar longe. No entanto, mesmo sabendo o quão ruim isso seria, quis tê-los. Quando comecei a namorar, sabia que aqueles bons momentos de paixão e intimidade poderiam se converter em ressentimento e sentimentos de culpa ao final. Não sei se estou sendo muito frio, eu apenas acho que não daria mais para continuar. Claro que eu gosto dela e queria que ela estivesse feliz, mas vejo a relação se arrastando como se fosse um dever: almoçar juntos é como um rito e não um prazer espontâneo assim como qualquer outra coisa. Não quero uma pessoa que esteja comigo apenas por mera acomodação.

Agora estou me sentindo terrivelmente deprimido por isto. É como se houvesse um vazio agora. Por que as relações humanas são tão efêmeras?

No que os humanos se diferem dos animais se suas relações são tão frágeis e confusas, com laços que apenas de maneira ilusória conseguem ser mais profundas que estes? Construímos vínculos para colorir o impassivel enredo de relações que são apenas fruto das momentâneas necessidades e mutáveis interesses humanos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sonho fantástico

No final da tarde de hoje, fatigado pelo desenrolar de uma semana corrida acabei dormindo. Não percebi direito como e nem quando, eu fui me deitando e quando percebi, já eram passadas duas horas quando um telefonema me acordou. Mas durante este tempo, tive um dos sonhos mais complexos que me lembro. Tudo ainda é esparso, vou contar em tópicos e pode ficar meio desconexo, mas de alguma forma, durante o sonho havia explicação.

1 - Eu estava usando o carro emprestado de um amigo para trabalhar e para uso pessoal também. Eu não sei dizer o que houve com minha moto, isso não é mencionado. O problema é que o carro do meu amigo não é um qualquer, é uma viatura. Por várias vezes eu sai e esqueci de trancar o carro e nada aconteceu. No entanto, um dia quando eu voltava para o carro, depois de ter ido em uma loja, encontro duas pessoas no banco da frente. Eu coço meus olhos, penso que não enxerguei direito, que me enganei. Então olho com mais atenção e chego quase a encostar no vidro. Um deles me vê, sai do carro calmamente e saca um revolver. Ele tem a mesma cara com bigode de um personagem do filme "Os Duelistas" que passei hoje na escola no terceiro colegial. Eu aceno para este cara com sinal de rendição e me afasto. 

Só que eu preciso do carro, e outra, ele não é meu. Assim, volto a tentar contato e percebo que os dois são policiais e que eles tomaram conta do carro por considerarem que é deles. O mesmo homem saca novamente a arma e eu levo um tiro e morro. Mas então volto no tempo, tal como no filme "Corra Lola Corra" e tento agir diferente, me escondo no meio das pessoas que passavam por ali e vou andando até entrar numa loja qualquer. As pessoas da loja gritam e escandalizam sabendo o que vai acontecer. Então eu tento me esconder bem, no meio das roupas e consigo escapar.

2 - Agora estou chegando na escola, o Moderno, mas estou em cima da hora. Tomo um café bem rapidamente e vou pra sala. Estou passando um filme no salão nobre. A classe é o terceiro ano. Em determinado momento, eu desço, preciso pegar meus diários no meu armário na sala dos professores. No caminho encontro a Iza, uma velha que foi minha professora na faculdade. Ela é a diretora do Moderno no meu sonho, enquanto a Dona Nadir - diretora real - no sonho é a vice. A Dona Nadir está na sala dos professores conversando com uma professora que agora não me recordo exatamente. Elas conversam sobre a saída iminente da Iza da direção por questões de idade. Assim a Nadir assumiria o posto, mas seria preciso um vice novo. Fico surpreso quando a Nadir me convida, diz que eu posso me candidatar e que haverá uma votação entre funcionários da escola. Questiono alguns colegas e eles não querem se candidatar, então eu digo que vou pensar e que ainda no mesmo dia daria resposta.

Estou agora no corredor da escola, pergunto para a professora Marta se ela acha que eu tenho chances de ganhar a votação e virar vice diretor, ela acredita que é possível e eu resolvo oficializar minha candidatura. Agora estou no pátio e vejo um aluno triste, quase chorando, parecia ser um aluno do ensino fundamental, oitavo ano. Eu abordo ele e pergunto o que há. Ele se senta e diz que quer compartilhar comigo do seu problema. Mas quando abre a boca começa apenas a falar sobre as refeições que fez, mas com o semblante triste, como se estivesse falando o motivo de estar assim. Eu não consigo entender, mas vejo a diretora passando e quero mostrar que posso ser um bom vice, então eu procuro fazer que entendo o que ele está dizendo e tento conforta-lo falando o que eu almocei no dia anterior. Ele não diz, mas eu consigo sentir que ele pensa que estamos tendo uma conversa profunda e esclarecedora, por suas feições. Então eu levanto e converso com uns outros alunos. e encontro o inspetor, a figura mais estranha do meu sonho. Ele se chama André, ele simplesmente não existe, mas no sonho ele ocupa o lugar do inspetor Mauricio. Ele é mais jovem, moreno quase negro, com uma expressão meio irônica e um tanto temperamental, como pude observar mais tarde.

3. Estou na escola ainda e vou até meu carro. Eis que vejo uma anêmona com um revolver me ameaçando. Eu fico bastante tenso e tento me esconder, digo a todos que é a segunda vez que sou ameaçado de morte naquele dia, mas as pessoas apenas tentam me tranquilizar. Só que eu sei que ele está lá, a anêmona, ou policial ou seja lá quem for. Na verdade quem me assustava era o revolver. Em determinado momento minha mente deu um close na bala do revolver e fiquei pasmo imaginando que ela poderia acabar dentro de mim. Me escondi entre uns galpões que eu nem sabia que tinha na escola, mas pensando bem, algumas coisas estavam diferentes mesmo na escola, o ambiente era levemente mais soturno, fechado, tons de vermelho escuro.

Algo que eu não me lembro acontece, mas a ameaça simplesmente acaba e estou novamente tranquilo. Subo para a classe onde eu estava e o filme acabou. 

4 - Por algum motivo que eu não sei explicar, após o filme foram exibidos uns videos dos meus gatos com os filhotes, eu olhei com atenção ao video e notei que eu estava la, naquele video. Então olhei ao redor e ao invés de ver a classe, eu me vi junto dos gatos. Só que eu não estava em minha casa, quer dizer, estava, mas era a casa da Patricia, eu morava sozinho lá, ou ao menos no quarto dela. Os filhotes estão por toda parte, alguns maiores e já bem autônomos. Eu telefono para a Patricia, peço para ela anunciar os gatos no jornal pra mim, que eu não sei o que fazer, que estou muito ocupado para cuidar deles. Eram cinco filhotes, mas tento contar e conto seis. Estou completamente perdido no meio deles. O Tintim  é um dos filhotes.  Então eu tento colocar eles em ordem, mas vão aparecendo mais e mais gatos e sem que eu perceba os gatos se tornam pessoas, eu olho bem e percebo que na verdade estou na sala de aula, no meio dos alunos e está perto da hora da saida. Eu preciso ir até a porta para evitar que os alunos saiam antes do combinado, assim como os outros professores o fazem. O André está no corredor e ele está tenso, ele quer evitar que qualquer aluno saia. Alguns alunos de outra sala acabam saindo e o André bloqueia eles com o corpo, e eu e outros professores ajudamos ele. Então chega uma funcionária ficticia e tenta passar, aí o André chega ao auge de sua fúria e começa a agredir com socos esta funcionária. Um dos professores é o Valter, ele tenta segurar o André. Eu admito que fiquei uns instantes só olhando, vendo o circo pegar fogo, mas então minha consciência me faz ajudar a segurar o André. Nós pedimos calma a ele. Ele para e fica sem reação, indignado. O telefone toca.

Sei que esqueci muitas coisas, caberia contar muito mais, se eu lembrasse, mas só isso que eu lembrei já foi uma experiência fantástica.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Reino sem risadas

O ouro se amontoava oriundo de grandes conquistas. A prosperidade era presente, mas trazia consigo a apatia, a impotência de se perceber tão dependente daquele ouro e de perceber que mesmo toda a riqueza não poderia cancelar os momentos de tristeza do porvir ou a inevitável morte e o fim de tudo.

- De que adianta ter se o futuro é morrer? - questiona um habitante do reino. E o que posso lhe dizer? Não lhe posso negar a razão e nem lhe presentear com placebos existenciais como a fé e a esperança.

Naquele reino ninguém dava risadas, ninguém achava graça. Naquele reino, a riqueza trazia consigo a sabedoria e a consciência de que nada faz sentido. Ando pelas vilas e caminhos do reino e não posso me furtar de exprimir o vazio que preenche o espaço que deveria ser ocupado pela vontade. No reino, me sinto deprimido porque percebo que sinto vontade de dormir apenas para poder sonhar e perceber que não importam as conquistas porque a realidade sempre será a mera realidade perto do mundo inalcançável dos sonhos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Travessia serena pelas sombras

Melancolia, tristeza e nostalgia, mas uma nostalgia orfã, saudades daquilo que existiu apenas em pensamento porque a realmente é sempre mais crua do que a capacidade de fantasiar e anestesiar de nossa mente, dopando nossas sensações. Esta é a paisagem da travessia serena pelas sombras, cujo chão é coberto de lágrimas e o céu é estrelado e repleto de estrelas cadentes desprovidas de esperança.

Não há nada para se fazer nesta travessia senão observar, olhar ao redor com a dolorosa consciência de que a vida é finita e deve ser intensa. Não quero que ela se finde, não durante a longa travessia por este vale tão pesaroso, mas não há qualquer escolha, é como quando você é um garoto em um carro durante uma viagem chuvosa, no banco traseiro. As gotas atravessam o vidro, todas elas acabam por se dissipar durante a travessia, mas nunca se sabe em qual parte delas. Somos apenas gotas que no início nos sentimentos protegidos em uma nuvem ou junto de outras gotas e nos percebemos sozinhos, atraídos por uma trama desencadeada sem escolhas pela força da gravidade.

Nesta caminhada o desânimo se pega pelo ar de maneira quase inevitável. Os revézes se amontoam e falam alto, ganham a magnitude e a imponência de grandes construções inquebráveis que possuem a desolação como estilo padrão.

- Por que a travessia não termina?

- Não pergunte, apenas curta cada pequeno detalhe cada grão que espezinha como agulha ao som inseparável da rádio novela mais longa da história, transmitida em ritmo cadenciado porém infalivelmente contínuo em loop dando voltas e voltas sem pressa, doentío, imparável e perturbador de tal modo que quando dormir seus sonhos serão a continuação dela e quando acordar, perceberá que o pesadelo permanece. Não há para onde ir, apenas espere, apenas aprenda a curtir tudo isso.

...E segue a travessia pelas sombras. Mas não se preocupe tanto, eu sou tua companhia e sempre serei enquanto existires.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O brilho

O brilho se foi. Muralhas em ruínas, intermináveis ruínas, constróem o cenário acinzentado no qual se ouve o mais irritante silêncio, perturbador como um estridente ruído. Me desculpem se não posso retratar de maneira mais poética tão desolado retrato. Não creio que tenha o poder das palavras e o ar que exala áridez criativa não me permite dizer mais.

O brilho se foi. Terá mesmo existido algum brilho ou ele existia apenas nos olhos e na mente daqueles que enxergavam em uma situação tão momentânea e comum na história humana algo extraordinário?

Neste caso, embora a guerra tenha sido dura, seus desdobramentos já estavam traçados? Os previsíveis resultados de um confronto onde eles pularam entusiasticamente nas mãos de seus algozes com os quais apenas puderam desfrutar de pequenos e valiosos momentos de bonança.

Acontece que mesmo a queda é uma situação conjuntural tal como as nuvens que se movem, montando e desmanchando até mesmo os climas mais profundos. Se os desdobramentos estavam traçados, os próximos também estarão e se havia algum brilho ou não, dirão as nuvens ao cair deste tenebroso dia quando se descortinarem para o espetáculo perene das estrelas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um deserto de imaginação

As ideias estão escassas, a mente esgotada e sem lampejos. A espera involuntária não se sabe do quê para que se possa sair do deserto de imaginação. A página em branco teima em não permitir comunicação. Ela é vasta, árida e a percorro sem qualquer plano. Para onde grito por alguma ajuda, só ecoam clichês. Nada é inédito, em todas as direções, pegadas. Sensações e sentimentos levados até a total exaustão e a completa esterilização, apenas simulacros de um código de sobrevivência humana.

O que estou fazendo? Nada do que disse me é novidade. Onde quero chegar? Este é o ponto: se soubéssemos não daríamos tantas voltar em torno das mesmas crises e das mesmas questões. É a sina de ser humano e sujeito à instabilidade mesmo no âmago do racionalismo. Estou somente triste. Não se pode evitar e nem se deve: a tristeza aos níveis mais subterâneos apenas faz a alegria cíclica parecer existir nos níveis mais elevados.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Olhos de TV

Prólogo

Não se sabe exatamente em qual parte do globo, um apartamento confortável. Era domingo à noite. Um rapaz de uns 19 anos chamado Yuri, talvez um pouco mais, assistia um filme. Nos sofás e poltronas da sala, seus pais e irmãos. Uma cena normal, familiar. Chegando mais perto, porém, enxergam-se lágrimas nos olhos do garoto e uma expressão contida de desespero, agonia, confusão. Rapidamente ele olha para os lados. Todos estão vendo o filme, tranquilos e felizes, mas ele não consegue tocá-los. É como se não estivessem na mesma dimensão.

Sua mãe oferece pipocas com manteiga. Ele prova. É como se estivesse comendo ar. A pipoca não tem gosto. É como se não estivesse comendo nada. O refrigerante que a acompanha, é como se evaporasse da boca. "O que está acontecendo?", pensava ele. Retira de seu bolso um drops de cereja e, felizmente, tinha gosto de drops de cereja! Enquanto chupa a bala, prossegue olhando para a tela. Aos poucos, é como se tudo ao seu redor estivesse se desfazendo. Você já teve esta sensação? É como olhar um ponto luminoso fixo, que era a TV, enquanto tudo ao redor se desfaz no ponto cego da vista. Ele, no entanto, preferiu não tirar o olho da tela. Temia o que seus olhos poderiam mostrar.

Parte I - Assustadora vida feliz

Na tela da TV, passava um filme indicado para toda família, um enlatado, um "blockbuster" como dizem. O protagonista era jovem e elegante. No decorrer do filme, ele enfrenta desafios como em praticamente todos os filmes deste estilo e tão previsivel quanto isso: ele os vence. Neste meio tempo, encontra uma jovem e se interessa por ela. Na metade final do filme, há uma grande perda - alguém morre ou ele precisa renunciar a algo e em contrapartida, ganha o amor da jovem e tudo acaba bem, como sempre. Ou melhor, quase tudo. Bem perto do fim, vemos o protagonista fazer algo que não parecia previsto no script. Vamos olhar um pouco mais de perto.

O protagonista não parece tão feliz. Ele tem uma expressão de impotência e reaje aos outros com espanto, parece os evitar e não consegue. É como se estivesse sendo empurrado pelo desenrolar do enredo. Encontra-se com a jovem, que o beija e não deixa qualquer impressão em sua boca. Ele sequer reaje. Após isso, tira de sua boca um drops e olha para adiante de tudo, como se pudesse assistir sua família parada e sentada em sofás e poltronas. Ironicamente, eles não podem ver que nosso protagonista os está vendo. A tela preta e as letras de crédito tomam conta da televisão.

Parte II - Criatividade árida

O jovem protagonista, Yuri, vê tudo escurecer e um novo cenário surge. Agora, ele é um adolescente chamado Andy em meio aos amigos com espírito aventureiro, que estão planejando passar as férias numa casa de praia. Momentos depois, já estão lá. Um deles , apelidado de Mike era particularmente irritante e fazia o comentário mais impertinente possível a todo instante, seja sendo vulgar com as garotas da "turma", seja exalando uma forçosa prepotência travestida em uma simpatia chauvinista. Yuri, à respeito deste sujeito, pensava: "eu ficaria feliz se este cara simplesmente sumisse".

Instantes depois, Mike é encontrado morto, misteriosamente assassinado. Uma das garotas reaje feito uma histérica gritando de maneira desesperada, enquanto nosso protagonista apenas olha espantado a realização de seu desejo, imaginando se havia relação entre seu desejo e a morte. Olha com expressão de misericórdia para a garota histérica, mas nota que ela é bastante superficial, apenas está gritando frases como "não pode ser!" "como isso foi acontecer?". Apenas está fazendo escandalo, mas é como um escândalo niilista de quem apenas não quer passar a impressão de ser insensível. Nota então que todos da turma parecem representar papéis superficiais e percebe que logo em breve, a histérica morreria, depois um por um dos demais, exceto uma das garotas que parecia dar mole para ele. A história se repetiria, afinal! Não importa qual o pano de fundo, qual o gênero se é que se pode diferenciar estes filmes em gêneros, alguns aspectos básicos iriam sempre se repetir e faria tudo previsível, tudo vazio.

Aqueas pessoas, entendeu ele, aquelas a sua volta chorando a morte do amigo, não podiam deixar de ser superficiais porque estavam marcadas para morrer. Olhou para fora da tela e viu expressões faciais de satisfação, de expectadores que esperavam por estas cenas e resolveu que aquele dia não poderia ter final feliz. Talvez só assim, conseguiria sair de sua sina repetitiva, de seu circulo vicioso alimentado pela satisfação de espectadores cujo espírito repetitivo era alimentado por filmes que, em seu âmago, eram todos iguais.

Durante toda a trama, procurou o assassino e queria ser morto por ele. Quando o encontrou, provocou até levar um tiro e caiu, perdendo a consciência aos poucos e se sentindo satisfeito, feliz por se livrar de seu circulo vicioso.

Parte III - Marcado para viver

Era um quarto confortável e bonito. A visão voltava aos poucos, assim como os outros sentidos. Procurava lembrar como veio parar ali e então percebeu: seu plano falhou. Milagrosamente sobreviveu. O tiro pegou de raspão. Uma das garotas da turma dizia a um dos caras que o protagonista retomou a consciência e havia jurado vingança. "O que? Minha atitude foi englobada no script? Não pode ser!" Resolveu então deixar tudo rolar, até o final feliz. Não havia mais nada a fazer, a não ser aturar a felicidade programada.

Assim foi em sucessivos filmes. Alguns eram comédias românticas ou apenas de idiotices, outros eram pseudo-dramas, outros eram suspenses e todos eram iguais. Ele sobrevivera a todos, encontrava uma namorada em quase todos e enfrentava desafios guiados sempre por um pano de fundo maniqueísta. Por mais que tentasse ser mal, era sempre bom e do bem.

Em um destes filmes, estava em uma lanchonete. Olhou ao redor e percebeu que estava com mais quatro "amigos" que combinavam de ir ao boliche. Tanto na lanchonete como no boliche, percebbeu cada vez mais como as frases de efeito retirada de músicas de sucesso ou com mensagens politicamente corretas, as poses, em especial poses repetitivas para tirar foto, com sinal de "V", de positivo, os sorrisos sempre iguais eram extremamente irritantes. Após tudo isto, Yuri, nosso protagonista foi para "sua casa" e após algumas cenas, se viu no sofá assistindo a um filme com "sua família" e pensou: "um filme dentro de um filme destes deve ser realmente uma bosta". Já perto do final do filme, um final feliz, um beijo entre os dois protagonistas seguido de uma fala da 'mocinha': "que delícia!" e então o mocinho tira algo da boca e mostra dizendo: "gostou do meu sabor cereja?"...

...Escuridão...

Yuri sentiu um dejavú. Foi como se levasse um choque que o acordasse de um transe percebendo que ele era aquele protagonista e que seu ato espontâneo de tirar a bala da boca no primeiro filme não fora espontâneo, estava programado no roteiro. Percebeu que suas ações estavam condicionadas. Não poderia viver livre, mas também não poderia morrer como o protagonista. Estava marcado para viver.

Sabendo que não podia mais fazer nada, mas que não aguentava mais ficar ali e assistir aquele dejavú, levantou e caminhou para fora da sala. "Sua família" não esboçou reação, exceto por sua mãe que, em um tom carinhoso disfarçando uma atitude policialesca disse: "onde vai, querido?". Ele a fitou por alguns instantes e seguiu o diálogo:

- "eu apenas vou dar uma volta..."
Ela respondeu com um sorriso. - "dar uma volta onde? Não quer a nossa companhia?"
- "Sim, eu quero. É que eu já assisti a este filme"
- "Não. Este é inédito, este é o '3', você deve ter assistido aos dois primeiros, vai perder o final?"
- "faz alguma diferença?" - e pensou consigo mesmo, "eu assisti por dentro, no fundo, não importa" e saiu.

Na rua, já bem tarde, foi até uma loja de conveniência. Lá, estava bebendo umas cervejas sozinho. De repente o local foi atacado por bandidos armados que renderam todos. Yuri resolveu reagir, afinal, o mocinho não morre mesmo e ele queria beber tranquilo. "Você é insano?" disse o bandido."Vamos, atire. Eu vou chamar a polícia se vocês não sairem". E ante o olhar assustado dos bandidos foi até o telefone, quando pegou o aparelho, tomou um tiro no braço e virou rapidamente para os assaltantes com um olhar de confiança. Em seguida, tomou três tiros que pegaram regiões de sua barriga e perto de seu peito. Os bandidos se assustaram e fugiram levando qualquer coisa pelo caminho. Ao cair em seus últimos suspiros, nosso protagonista percebeu uma televisão ligada e via os instantes finais do filme. A 'mocinha' chorava a morte do 'mocinho' dizendo "por que você tinha que ir? Não podia apenas ficar em casa?". Neste mesmo instante, a mãe, em casa, desligava a televisão ao final do filme e disse aos outros: "Pena que oYuri saiu, perdeu um grande filme, grande final. Talvez ele não soubesse e por isso mesmo saiu, mas os protagonistas às vezes morrem no fim".

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Escola da Morte

Prólogo

Um dia eu e meu filho chegamos na cidade. Procurei uma escola para matricula-lo e encontrei o Colégio Netuno localizado na casa número 8 de uma linda praça redonda com um grande relógio de sol no centro. Era uma escola bastante tradicional, daquelas cheias de regras rígidas, onde o horário de estudo pegava o turno da manhã e por três dias na semana, o da tarde. Não havia cantina, apenas uma merenda igual para todos, composta por um sanduiche e um suco, com gastos embutidos na mensalidade.

1º Dia

Meu filho arrumou seu material, uniforme, tomou café da manhã e foi pra escola. Quando voltou, me disse que conheceu quatro garotos, que eram legais e que qualquer dia traria eles em casa para que me conhecessem. Fiquei feliz em ver que tinha se adaptado. Não estava mais triste, com saudades da mãe, estava conhecendo pessoas novas e eu ficava contente em ver o sorriso em seu rosto.

5º, 6º e 7º Dias

Sexta-feira, meu filho voltou da escola, pediu para sair com aqueles amigos de quem me falou a semana toda. Permiti. Iriam dormir na casa de um deles.
Quando voltou, me contou que foram ao cinema, depois foram em uma festa com outros alunos da escola, que conheceram garotas e que depois da festa, passaram a madrugada conversando e jogando cartas. Me falou sobre seus amigos. Rodrigo era o líder da turma, extrovertido, inconsequente, seus excessos eram equilibrados pelo sensato e inteligente Fernando. Carlos era o mais rico e foi na casa dele que dormiram, enquanto que Pedro era tímido, meio depressivo e sempre era animado pelos demais, principalmente por Rodrigo.

Uns seis meses se passaram e a amizade aumentava.

194º Dia

A diretora chamou Rodrigo em sua sala, bravíssima. Quando voltou, meu filho e os outros ficaram sabendo que ele havia colocado uma câmera no banheiro das meninas e planejava ver com seus amigos depois, o filme. Não contou nada porque achava que eles teriam medo. Pelo arquivo da câmera, de fotos pessoais do Rodrigo, a diretora deduziu o dono da câmera e ele confessou. Os quatro ficaram furiosos com Rodrigo, brigaram, não queriam mais falar com ele, de raiva de sua atitude tão impensada. Ao menos tivesse apagado o arquivo da câmera! Que tolice!

197º Dia

Algumas alunas e suas famílias pressionaram e Rodrigo acabou sendo expulso do Colégio Netuno. A escola era tradicional demais para isso. Apenas os quatro amigos resolveram romper o gelo e defenderam Rodrigo, mas não teve jeito.

202º Dia

Nos dias anteriores, os pais de Rodrigo resolveram matricula-lo num colégio interno, com uma disciplina quase militar. Rodrigo sentiu-se tão mal de perder sua liberdade que, quando seus pais saíram de casa, pegou o revolver de seu pai e se matou.

203º ao 208º Dia

Meu filho e seus três amigos ficaram chocados e passaram a rpotestar na escola o tempo todo. Acusavam a diretora de assassina, responsabilizavam-na pelo que aconteceu. Mesmo o mais comedido, Pedro, ameaçou-a de morte. Gritaram tanto na escola que atraíram a inimizade de alguns colegas e professores. Estavam impossíveis. Era setembro e quando eu ia até a escola, sentia que a diretora torcia para aquele ano maldito acabar logo.

209º Dia

Meu filho chegou em casa muito assustado, chorava. Contou que logo após o intervalo, Fernando teve uma crise nervosa e caiu morto. Fiquei espantado ao ouvir aquilo. Imaginava a cena. Nem o conheci, mas ouvia falar muito bem daquele garoto, um estudante exemplar. A escola ficou de luto.

211º Dia

Mais uma morte. Igual à primeira, desta vez era o saudável Carlos, que praticava esportes, que ninguém esperava que fosse ter uma vida tão curta. Suspeitas de conspiração. Parecia que o grupo de meu filho estava causando tanto tumulto que alguém estava de alguma forma matando-os. Será que sua merenda estava envenenada? Foram enviadas amostras para que fossem investigadas. Mas eu devia pensar em algo logo ou meu filho morreria. Restavam apenas ele e Pedro, que estavam visivelmente apavorados, andavam juntos com muito medo.

213º Dia

Pedro não comeu a merenda, apenas bebeu o suco, mas mesmo assim, teve convulsões e morreu ali mesmo, no pátio. Meu filho não chorava mais, não falava mais. Sentia uma tristeza profunda.

214º Dia

Passei o dia procurando uma escola nova para matricular meu filho. Não podia mante-lo nesse ambiente. Acertei com uma escola onde iria começar a estudar na semana seguinte. Meu filho concordou, disse que iria a escola no dia seguinte para se despedir de todos.

215º Dia

Meu filho me ligou, disse que eu devia encontra-lo na rua de trás do colégio que estava mal e não conseguiria voltar pra casa. Me desesperei, não queria acreditar no pior. Quando cheguei lá encontrei-o sentado na cançada encostado em um muro. Fui correndo até ele. Estava vivo ao menos. Chamei-o, não respondeu, balancei seu corpo e então percebi que soltava uma baba. Meu filho estava morto! Maldição! Resolvi ir até a escola reclamar, vi a diretora sendo presa. A merenda deles estava mesmo envenenada! Fiquei indignado, pensava em matar aquela mulher, mas não tive tempo, ela entrou no camburão. Foi encontrado um pote de veneno em sua mesa. Que burrice vulgar, como se expôs dessa forma, aquela serial killer!

216º Dia

Resolvi abrir a mochila de meu filhoe arrumar seus pertences. Encontrei um bilhete, um muito sinistro. Tinha a assinatura dos quatro garotos, excetuando Rodrigo. A letra de Fernando escrevia que deviam passar o produto em seus lanches e comer sem vacilar. Que ele seria o primeiro. E que ao último, meu filho, caberia a tarefa mais difícil., além de assistir a morte de cada um, calado, ele teria que colocar o pote na mesa da diretora, que se ele falhasse, tudo teria sido em vão.
Logo abaixo, um lema escrito com quatro canetas de cores diferentes e letras diferentes, mas que ainda assim era legível, dizia: Um por todos, todos por um. E abaixo, a letra inconfundível, era de meu filho, dizia: Deus nos compreenderá. Voltaremos a nos encontrar, nós cinco.
A diretora então, era inocente. Pegou trinta anos de cadeia. Tomei uma decisão, guardei a folha e nunca, nunca, revelei a ninguém. Na vingança fria e macabra, descobri em meu filho um humano de virtude e em seus amigos, lealdade e coragem que eu nunca teria, não me vendo no direito e tornar estas cinco mortes em vão.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Máquina do Tempo

A grande placa dizia somente: "Localização no tempo - 2202 d.C.". Entreolharam-se um padre francês oriundo, provavelmente do final do século XVIII, uma cientista inglesa da primeira década do século XX, um viking do século IX e uma freira vinda de um mosteiro português do século XVI.
Olhavam assustados. Ao redor, paredes metálicas, painéis digitais, monitores com imagens diversas passando rapidamente, mas o silêncio era absoluto no local. Até que o padre, quando abriu a boca para falar, percebeu que sua voz soava diferente. Na verdade, não diferente, mas falava em um idioma que não conhecia e estranhamente entendia: uma espécie de mistura entre inglês e russo. Notou que era como se todos entendessem o que se colocou a dizer:
- Vocês estão com o governo? Eu morri? Você são anjos do Senhor?
- Anjos? Eu apenas me lembro de estar no laboratório fazendo testes com pólvora. Afinal, estamos em 2202? - replicou a cientista.
- Não, eu acredito que estejamos condenados. A culpa é minha, eu pequei. O senhor é um padre? - perguntou a freira ao clérigo - Preciso me confessar antes que seja tarde.
- Quer dizer que vocês são cristãos? Estamos em um mosteiro? Deve haver muita prata por aqui. Mas eu só me lembro de estar em Hedeby desenhando em meu machado. Será que eu morri e estamos na entrada do Valhala? Mas não pode ser. Não deveriam existir padres aqui. - disse o viking.
- Sim, eu sou um padre. Mas acredito que eu também devo ter pecado, porque estamos juntos no mesmo barco, minha filha. Eu venho da França, não podemos estar em 2202! Estamos em 1789!
Então uma porta se abriu, e entrou um homem de cabelos brancos compridos e barba branca.
- Deus! - disse o padre.
- Então nós morremos e realmente existe Deus? - indagou a cientista.
- Hahaha... de fato, de um jeito ou outro, eu os criei, mas não sou Deus. - disse o estranho homem - Na realidade, cada um de vocês veio de uma época distinta e eu os trouxe. Venham comigo que lhes contarei minha história, que também é a vossa. - terminando de falar em um tom dramático.
Seguiram os cinco para uma sala com geladeiras, fornos de todos os tipos. O homem disse a todos:
- Sirvam-se com o que quiserem! Comam e bebam à vontade. São meus convidados.
O viking serviu-se de pão. Ficou maravilhado com pães cobertos com queijo derretido. Pegou também carne de javali, temperou com mel e bebeu cerveja, mas achou muito estranho o gosto. O padre e a freira serviram-se de frutas e também de picanha. Ficaram com medo de beber refrigerante por causa do gás e das cores estranhas, então beberam água. A cientista comeu uma lasanha bolonhesa e bebeu vinho.
O homem apenas olhava os quatro. Sorria discretamente ao ver a reação dos homens do passado com alimentos que não conheciam. Quando notou que já estavam mais calmos e acomodados, começou a falar:
- Eu sou um cientista russo, já estudei nos Estados Unidos e na Alemanha. Embora a maioria de vocês mal saiba que localizações são estas, enfim, eu trabalhei com um grupo em um experimento chamado Máquina do Tempo. Ficamos três décadas seguidas trabalhando duro com a mais alta tecnologia buscando este sonho. Conseguimos muito apoio financeiro de fundações e então conseguimos alguns resultados.
- O que faz essa Máquina do Tempo? Foi ela que nos trouxe aqui? - perguntou a cientista, maravilhada com as palavras do homem.
- Sim. É uma máquina muito especial. Com ela, é possível visitar o passado, apesar de não termos muita precisão. Prestem muita atenção na história que vou narrar. Vocês serão decisivos para resolvê-la. - falou em tom bastante sério.
Então a máquina ficou pronta. Colocaram um rato em seu interior e ativaram. O rato desapareceu, com a máquina indicando que tinha sido enviado para algum lugar no Oceano Pacífico entre os séculos IV e VII.
- Ainda é muito perigoso o uso desta máquina! - exclamou o homem
- Sim, considerando que a maior parte da superfície terrestre é de oceanos e que não temos precisão suficiente para garantir o lugar onde a pessoa vai parar, a chance de alguém morrer usando a máquina é grande. - disse muito preocupado o colega.
Meses depois, com alguns ajustes, o cientista resolveu que ele mesmo iria usar a máquina. Os outros cientistas acharam perigoso e, ainda, sua mulher estava finalmente grávida, já tinha um mês, mas não podiam impedi-lo. Ele foi o principal responsável por sua criação e achava que era a missão de sua vida. O cientista partiu com seu material, queria fazer experimentos no passado. Ninguém sabia ao certo o que ele planejava. Passou um dia inteiro e ele não voltou. A namorada dele ficou preocupada e resolveu secretamente embarcar também para encontrá-lo. Não sabia exatamente como mexer na máquina e acabou indo parar em uma época muito posterior.
Quanto ao cientista, tinha trazido seu material de genética e clonagem. Ele clonou a si mesmo e reproduziu genes de outros humanos, homens e mulheres. Ficou anos trabalhando nisso e achava interessante que não havia outros humanos por ali, apenas espécies menos evoluídas de símios.
Quando se deu por satisfeito ao criar um grupo bastante razoável de humanos inteligentes que conseguiam sobreviver e se desenvolver sozinhos, se espalhando pelo mundo, disse a eles que precisava partir e que estava muito orgulhoso de ser o criador de todos eles. Estes retribuíram dizendo que nunca iriam esquece-lo e que seriam eternamente gratos.
O cientista voltou e sua mulher não estava mais lá. Ele imaginou que ela teria usado a máquina, mas que nunca mais a veria novamente, afinal, ela poderia ter se transportado para qualquer época aleatória e não saberia retornar.
Enquanto isso, a mulher foi parar na época de glória do Império Romano. Depois de uns dias, desesperou-se, pois entendeu que não conseguiria retornar e foi encontrada por um pastor de origem hebraica. A comunicação entre eles era difícil porque não falavam o mesmo idioma, mas o pastor entendeu que ela era virgem já que ela não queria manter relações com ele, mesmo que ele a tratasse como se fossem casados.
Com o passar do tempo, o pastor notou que a mulher estava grávida e ficou espantado, pensou que algo estava estranho ali, que aquele filho não fecundado poderia ser uma obra do além e resolveu se esforçar para que tivesse um parto decente.
Um dia a mulher olhou no meio de suas coisas um envelope que não tinha visto antes. Abriu, era uma carta de seu namorado, no meio da carta, tinha a seguinte passagem:
"[...] não sei quanto tempo levarei em meus experimentos, encontrarei um lugar desabitado para testar genética e clonagem, criando seres humanos à nossa semelhança e de diversos tipos. Me espere, eu voltarei! Se nosso filho nascer antes de eu voltar, cuide dele com todo carinho, amo muito vocês dois."
A mulher então percebeu que não devia ter feito a viagem no tempo. Ironicamente percebeu que era tarde e que se pudesse voltar no tempo - ou avançar no tempo - não teria feito aquilo. Aceitou seu destino. Teve o filho e o educou contando histórias sobre seu pai. Este filho foi chamado de Jesus e sua história é bastante conhecida, embora muito fantasiada. O fato é que não foi difícil para Jesus chamar a atenção de todos com os pequenos brinquedos tecnológicos que sua mãe tinha trazido na mala, como o estojo de alquimia, onde transformava água em um fermentado de uvas, nem usar as maravilhas da medicina do século 23 para curar cegos. Todos davam atenção a Jesus, que se tornava cada vez mais importante, mais importante até que os tradicionais sacerdotes judeus que antes monopolizavam a fé daquele povo.
Além de tudo, fisicamente Jesus era diferente dos homens que conhecia: ele era branco, com olhos azuis - afinal era um russo. Tudo o que ele dizia, as histórias sobre seu pai que trabalhava em projetos de genética criando seres humanos, fez com que o povo identificasse Jesus como um filho direto de Deus: estava resolvido o mistério da virgem.
Quando nosso cientista, o pai de Jesus voltou ao seu tempo, porém, notou muitas outras coisas. Percebeu que o mundo estava muito diferente, desolado por guerras e viu por todo canto um símbolo em forma de cruz e outros que ele soube depois explicaram a ele que se tratava de religião e fé. Como ele não sabia o que significavam essas coisas, pensaram que talvez a máquina tivesse afetado seu cérebro, causando danos e que era melhor aposentar a máquina.
Como o homem já estava na casa dos 60 anos e com quantia razoável de dinheiro, se aposentou e passou a se dedicar a tentar entender o que havia acontecido. Isolou-se em uma casa numa ilha bem distante de qualquer conflito, perdida no Pacífico sul, onde assistiu a humanidade se destruir. Populações inteiras sendo dizimadas. A terceira guerra mundial foi terrível. Lendo e pesquisando, o homem juntou as peças do quebra-cabeça e entendeu quem era Jesus e o que aconteceu: a humanidade que ele criou, em nome dele e de seu filho, se matava. Percebeu as inúmeras formas que cada povo e etnia via o seu criador, como diferiam e como nenhuma realmente se parecia com ele. Algumas vezes até ria, pensando: "então eles acham que eu criei o universo também? E que eu sou eterno? Que seres imaginativos e criativos eu criei! Que irônico orgulho para qualquer cientista!". E decidiu que deveria dar um jeito de resolver isso.
- Quer dizer que não somos parte de um processo evolutivo? – surpreendeu-se a cientista.
- Mais ou menos. Quer dizer, pelo que eu observei, a lei da evolução não estava errada, mas vocês são uma criação minha.
- E você? – perguntou o padre.
- Acompanhando boletins científicos, descobri que existe grande possibilidade de a humanidade não ter sido parte deste processo. Mas isso ocorre justamente por causa da minha intervenção, que acabou por eliminar todas as espécies menos evoluídas, por meio da supremacia dos humanos mais inteligentes que eu criei e orientei.
- Mas, espere! O que isso tem a ver com você nos trazer até aqui? – perguntou a cientista.
- A humanidade está se extinguindo. As poucas pessoas que restam estão morrendo, acabaram os recursos. Eu tenho apenas estas minhas reservas em minha base aqui nesta ilha, mas, quando acabar, morrerei. Trouxe aqui quatro pessoas aleatórias, por sorte, dois casais, para que consigam reverter a minha intervenção. Em outras palavras, vocês precisam procriar a espécie humana!
A última frase do homem causou um alvoroço nos quatro. A freira se dizia virgem e não concordou. Alegou que tinha voto de castidade, assim como o padre. O homem foi bem direto:
- O voto de vocês foi feito em meu nome e em nome do meu filho. Eu digo que vocês devem ter relações sexuais e rompo o voto de vocês. A humanidade é mais importante que sua virgindade.
- Mas... por causa da guerra, o planeta não está sem condições de vida? – questionou a cientista.
- Sim. Eu esqueci de mencionar. Enviarei vocês ao passado. Não tenho como saber em que época, com precisão, mas terá de ser em um pouco antes de quando eu desembarquei para criar a humanidade. Assim, vocês darão um novo rumo, apagando o meu erro.
Então, o viking disse que não entendeu muito bem a história, mas que aceitaria desde que ele pudesse tirar a virgindade da freira, que continuou revoltada. O homem consentiu.
- Ela não quer. Mas, em nome da ciência, acho que você já está acostumado a invadir mosteiros e estuprar freiras mesmo.
Então o viking pegou a freira pelos braços e tirou as roupas dela usando sua força. Chegou mesmo a rasgar os panos de seu hábito. A freira sequer era depilada e seu cheiro por baixo da roupa não era agradável, mas o viking não quis nem saber. Estava excitado e louco de vontade de fazer a freira sangrar, tirando sua virgindade.
- Minha pureza! Não! Ahhhhhh! Ahhhhhh!! Socorro, me ajudem, não faça isso! Ahhh! – aos poucos a freira acabou cedendo. Não que estivesse gostando, mas no fundo, achou o viking atraente e começou a tentar se convencer de que era a vontade de Deus. Afinal, Ele estava do lado dela, torcendo. Enfim o viking gozou, urrando de satisfação.
O padre ficou perplexo e rezou para que tudo aquilo acabasse.
- Está rezando para quem, padre? Eu sou seu criador, pode falar diretamente comigo! Hahaha... E além disso, acho que a cientista gostou de você.
- Eu entendi minha sina.Em nome da ciência e pelo bem da humanidade, eu aceito. – disse a cientista.
- Esperem. Eu preciso confessar uma coisa. – disse o padre em tom de suplica e prosseguiu – Eu não gosto de mulheres. Como não queria me casar, eu me tornei padre.
- Pelo amor de Deus! – riu ironicamente o homem – Eu não acredito que trouxe aqui um padre viado!
- Deus é homofóbico? – perguntou a cientista.
- Eu não sou Deus e não, não sou homofóbico. Se você for homossexual, que seja, mas ao menos faça um sacrifício por aquele que te criou, dê umazinha com essa cientista loira e em plena forma! Quantos homens não iriam querer essa oportunidade?
- Não consigo! – disse chorando – Eu sinto nojo só de pensar.
O homem quis ser compreensivo e prático. Pegou um pano e sugeriu a cientista que usasse como uma venda no padre, para que ele não visse o que estava fazendo. E perguntou ao viking, já relaxado em um canto, se ele não podia ajudar indo por trás do padre e excitando-o.
- De jeito nenhum! Eu não gosto de homens. Mas já que o padre não quer, eu posso resolver o problema da cientista... – e olhou com uma cara de tarado para a mulher.
- Não pode. Senão os filhos serão irmãos e corremos um risco grande de ter problemas com os descendentes. – e resolveu então pegar um pepino na dispensa. Virou-se para a cientista e sugeriu que o usasse para excitar o padre.
Neste momento, o clérigo ficou apavorado e quis fugir. O viking o alcançou, segurou seus braços nas costas enquanto a cientista vendava-o e logo depois ela tirou a batina dele e cuspiu no pepino com o intuito de lubrificá-lo. Quando estava bem úmido, enfiou aos poucos em seu ânus, estimulando a próstata. O padre tentava gritar, mas o viking ameaçava machucá-lo e então ele se conteve, até que foi ficando excitado. Foi daí que a cientista se despiu e começou a se esfregar no padre, falando coisas obscenas em seu ouvido:
- Imagine a vara do viking no seu rabo, agora me coma. Veja como seu pau está duro! Eu sei que você quer. – sussurrou enquanto passava as unhas no peito do clérigo. Assim se seguiu até o padre gozar e se liberar totalmente.
Pediu ao seu criador que transasse com ele também. Nem sabia mais o que estava dizendo.
- Eu não posso, não tenho mais pique, mas muitas aventuras sexuais esperam vocês no meio do mato.
Ao falar isso, foi preparar a máquina do tempo e disse:
- No meu mundo, não havia religião. Lembrem-se: não digam a ninguém que vocês são criadores e nem nada disso. Apenas levem uma vida ao natural, que daqui há muitos séculos, a humanidade estará novamente à todo vapor. Aliás, se vocês pensarem bem, eu é que sou um descendente de vocês.
- O que? – perguntou a cientista, entrando em parafuso.
O homem abriu a câmara da máquina e pediu que entrassem. Quando estavam dentro da câmara, ele respondeu:
- E é possível que eu continue a ser eternamente, por infinitas vezes... – e sorriu.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ruslan - parte II

Continuação da história iniciada neste post.

Na manhã seguinte, Anne voltava para a cidade. Queria saber o que aconteceu, afinal.

Descobriu que infelizmente estava certa. Casas destruídas, corpos de cadáveres espalhados pelo chão. Desolação total. A igreja da vila, uma construção mais resistente, em estilo gótico primitivo estava de pé, mas seus vitrais estavam quebrados e sua porta de entrada tinha tombado. Ouviu algum barulho vindo lá de dentro e resolveu entrar, já que pensava que ninguém tinha sobrevivido na cidade.

Alguém poderia ter tido a mesma idéia que ela e se ausentado durante a noite, afinal. Ou poderiam ser as tropas inimgas. Deveria entrar com todo cuidado, então. Ao entrar, viu Marc e Viga ao centro da igreja, conversando. Sentiu uma ponta de felicidade em encontrar os dois juntos e vivos. Foi até eles.

Viga:
- Anne. Então você está viva. Que bom vê-la, conseguimos escapar porque fomos avisados do que estava pra acontecer, mas não tivemos permissão de avisar ninguém! Como sobreviveu?

Marc:
- Por onde esteve, cara Anne!

Uma voz soturna e agoniosa cortou o diálogo:
- Meu sobrinho! Está morto! Meu sobrinho! Berg!

Os três olharam a figura idosa, de olhos grandes e vivos, o tio de Berg.

Marc:
- Eu lamento. É muito triste a tragédia que aconteceu graças a essa guerra infeliz!

Tio:
- Ele não morreu pelo incendio e nem pelas armas dos soldados. O corpo de meu sobinho estava todo destroçado como se alguém tivesse arrancado partes de seu corpo que tem marcas de algo como... dentes!

Silencio total. Entreolharam-se com faces de perplexidade.

Viga:
- Espere. Como você sobreviveu?

Novo silencio...

sábado, 12 de janeiro de 2008

Projeto Forseti

Resolvi também me aventurar na literatura, conheçam o projeto Forseti:

http://projetoforseti.blogspot.com

Trata-se de uma história meio fantástica que eu estou criando, dividida em capítulos. Cada post é um capítulo e então, a periodicidade deverá ser semanal, mas flexivel. Quem lê este meu blog, não precisa se preocupar, não pretendo desativar este.