segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Peixes no Aquário pt. 2

E se algum dia você se encontrasse, tal como um peixe em um aquário, sozinho em meio a um universo só seu. Tão seu que só você o habitasse.

Livre para caminhar, para comer os frutos das árvores e para agir como quiser. Quem poderia julgar se seus caminhos levam à maldade? E quem poderia julgar se sua atitude é bondosa? Não há ninguém mais para fazer isto. Só você. Não haveria qualquer um que seja para interagir, para prejudicar ou para ajudar.

Então digamos que alguém de fora do aquário pudesse explicar por alguns minutos que existe o bem e o mal e explicar que o bem é tudo aquilo que você pode fazer para ajudar os outros e que o mal, é tudo aquilo que você faz para prejudicar.

Você poderia inventar que arrancar frutos das árvores é bondade porque assim, tornaria as árvores mais leves, sem que precisassem carregar pesados frutos que jamais iriam comer mesmo. E maldade seria o seu oposto, e seguindo assim, de maneira aleatória, se baseando em valores inventados, que no fundo, para o observador do aquário, nada significam, já que você não tem com quem se comunicar para falar sobre isso. Na real, estes conceitos seriam efêmeros, pois seriam baseados em especulações embasadas em nada.

Então, vamos pela primeira vez sair do aquário e mirar o seu observador. Este, provavelmente acharia engraçado os conceitos morais do solitário se pudesse conhece-los. Mas em seu próprio mundo, ele também vive com conceitos criados por alguém, seguidos pelos demais e transformados em verdade. Porque a verdade justifica, legitima e dá ao seu portador as possibilidades de agir, de agir em nome da verdade.

A possibilidade de agir é o poder de ação, logo, simplesmente, o poder, que se constrói através de uma interpretação das regras do mundo (a bondade, a maldade, a razão da existência, etc), as quais poderíamos dar o nome de moral.

Então, voltando para o aquário, encontramos o morador percebendo que suas ações não mudaram em nada as árvores e que estas são totalmente indiferentes ao que ele faz. Se decepciona e acaba deixando os conceitos morais para o esquecimento. Volta a ser livre, a agir de acordo com o que considera que deve fazer para levar sua vida e não com conceitos que ele especulou sobre as plantas.

A moral por si só, é tão sem explicação para o habitante do aquário porque na verdade, ela só se justifica em sociedade, porque baseada em relações de poder e influência que uma pessoa pode adquirir sobre as demais, emanado não só através de relações pessoais, mas como da família, da escola, da igreja, da mídia e do governo que incidem e formam ideologicamente o indivíduo, tomando como maldosos e perversos todos aqueles que escapam aos seus mecanismos de encucação moral.

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