terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Escola da Morte

Prólogo

Um dia eu e meu filho chegamos na cidade. Procurei uma escola para matricula-lo e encontrei o Colégio Netuno localizado na casa número 8 de uma linda praça redonda com um grande relógio de sol no centro. Era uma escola bastante tradicional, daquelas cheias de regras rígidas, onde o horário de estudo pegava o turno da manhã e por três dias na semana, o da tarde. Não havia cantina, apenas uma merenda igual para todos, composta por um sanduiche e um suco, com gastos embutidos na mensalidade.

1º Dia

Meu filho arrumou seu material, uniforme, tomou café da manhã e foi pra escola. Quando voltou, me disse que conheceu quatro garotos, que eram legais e que qualquer dia traria eles em casa para que me conhecessem. Fiquei feliz em ver que tinha se adaptado. Não estava mais triste, com saudades da mãe, estava conhecendo pessoas novas e eu ficava contente em ver o sorriso em seu rosto.

5º, 6º e 7º Dias

Sexta-feira, meu filho voltou da escola, pediu para sair com aqueles amigos de quem me falou a semana toda. Permiti. Iriam dormir na casa de um deles.
Quando voltou, me contou que foram ao cinema, depois foram em uma festa com outros alunos da escola, que conheceram garotas e que depois da festa, passaram a madrugada conversando e jogando cartas. Me falou sobre seus amigos. Rodrigo era o líder da turma, extrovertido, inconsequente, seus excessos eram equilibrados pelo sensato e inteligente Fernando. Carlos era o mais rico e foi na casa dele que dormiram, enquanto que Pedro era tímido, meio depressivo e sempre era animado pelos demais, principalmente por Rodrigo.

Uns seis meses se passaram e a amizade aumentava.

194º Dia

A diretora chamou Rodrigo em sua sala, bravíssima. Quando voltou, meu filho e os outros ficaram sabendo que ele havia colocado uma câmera no banheiro das meninas e planejava ver com seus amigos depois, o filme. Não contou nada porque achava que eles teriam medo. Pelo arquivo da câmera, de fotos pessoais do Rodrigo, a diretora deduziu o dono da câmera e ele confessou. Os quatro ficaram furiosos com Rodrigo, brigaram, não queriam mais falar com ele, de raiva de sua atitude tão impensada. Ao menos tivesse apagado o arquivo da câmera! Que tolice!

197º Dia

Algumas alunas e suas famílias pressionaram e Rodrigo acabou sendo expulso do Colégio Netuno. A escola era tradicional demais para isso. Apenas os quatro amigos resolveram romper o gelo e defenderam Rodrigo, mas não teve jeito.

202º Dia

Nos dias anteriores, os pais de Rodrigo resolveram matricula-lo num colégio interno, com uma disciplina quase militar. Rodrigo sentiu-se tão mal de perder sua liberdade que, quando seus pais saíram de casa, pegou o revolver de seu pai e se matou.

203º ao 208º Dia

Meu filho e seus três amigos ficaram chocados e passaram a rpotestar na escola o tempo todo. Acusavam a diretora de assassina, responsabilizavam-na pelo que aconteceu. Mesmo o mais comedido, Pedro, ameaçou-a de morte. Gritaram tanto na escola que atraíram a inimizade de alguns colegas e professores. Estavam impossíveis. Era setembro e quando eu ia até a escola, sentia que a diretora torcia para aquele ano maldito acabar logo.

209º Dia

Meu filho chegou em casa muito assustado, chorava. Contou que logo após o intervalo, Fernando teve uma crise nervosa e caiu morto. Fiquei espantado ao ouvir aquilo. Imaginava a cena. Nem o conheci, mas ouvia falar muito bem daquele garoto, um estudante exemplar. A escola ficou de luto.

211º Dia

Mais uma morte. Igual à primeira, desta vez era o saudável Carlos, que praticava esportes, que ninguém esperava que fosse ter uma vida tão curta. Suspeitas de conspiração. Parecia que o grupo de meu filho estava causando tanto tumulto que alguém estava de alguma forma matando-os. Será que sua merenda estava envenenada? Foram enviadas amostras para que fossem investigadas. Mas eu devia pensar em algo logo ou meu filho morreria. Restavam apenas ele e Pedro, que estavam visivelmente apavorados, andavam juntos com muito medo.

213º Dia

Pedro não comeu a merenda, apenas bebeu o suco, mas mesmo assim, teve convulsões e morreu ali mesmo, no pátio. Meu filho não chorava mais, não falava mais. Sentia uma tristeza profunda.

214º Dia

Passei o dia procurando uma escola nova para matricular meu filho. Não podia mante-lo nesse ambiente. Acertei com uma escola onde iria começar a estudar na semana seguinte. Meu filho concordou, disse que iria a escola no dia seguinte para se despedir de todos.

215º Dia

Meu filho me ligou, disse que eu devia encontra-lo na rua de trás do colégio que estava mal e não conseguiria voltar pra casa. Me desesperei, não queria acreditar no pior. Quando cheguei lá encontrei-o sentado na cançada encostado em um muro. Fui correndo até ele. Estava vivo ao menos. Chamei-o, não respondeu, balancei seu corpo e então percebi que soltava uma baba. Meu filho estava morto! Maldição! Resolvi ir até a escola reclamar, vi a diretora sendo presa. A merenda deles estava mesmo envenenada! Fiquei indignado, pensava em matar aquela mulher, mas não tive tempo, ela entrou no camburão. Foi encontrado um pote de veneno em sua mesa. Que burrice vulgar, como se expôs dessa forma, aquela serial killer!

216º Dia

Resolvi abrir a mochila de meu filhoe arrumar seus pertences. Encontrei um bilhete, um muito sinistro. Tinha a assinatura dos quatro garotos, excetuando Rodrigo. A letra de Fernando escrevia que deviam passar o produto em seus lanches e comer sem vacilar. Que ele seria o primeiro. E que ao último, meu filho, caberia a tarefa mais difícil., além de assistir a morte de cada um, calado, ele teria que colocar o pote na mesa da diretora, que se ele falhasse, tudo teria sido em vão.
Logo abaixo, um lema escrito com quatro canetas de cores diferentes e letras diferentes, mas que ainda assim era legível, dizia: Um por todos, todos por um. E abaixo, a letra inconfundível, era de meu filho, dizia: Deus nos compreenderá. Voltaremos a nos encontrar, nós cinco.
A diretora então, era inocente. Pegou trinta anos de cadeia. Tomei uma decisão, guardei a folha e nunca, nunca, revelei a ninguém. Na vingança fria e macabra, descobri em meu filho um humano de virtude e em seus amigos, lealdade e coragem que eu nunca teria, não me vendo no direito e tornar estas cinco mortes em vão.

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