domingo, 6 de janeiro de 2008

Leis da Natureza

É possível, através da dedução, compreender o mundo de tal forma a criar leis gerais sobre seu funcionamento? O começo deste texto pode parecer meio tedioso, mas os dois exemplos que darei são fundamentais para que eu explique porque penso que não é possível a compreensão.

No método científico, à grosso modo, partimos de uma tese que embasada em fatores, se torna hipótese. Então, através de pesquisas, busca-se evidências, busca-se provar a hipótese e teremos uma lei, que, como aconteceu inumeras vezes foi posteriormente desbancada por novas e mais aprofundadas leis.

No direito, um grupo de pessoas - que pode ser pequeno ou grande - cria as leis que vigoram dentro de um determinado espaço, seja uma nação, uma cidade, um estado, enfim. O que importa é que sempre existe um grupo (mesmo em ditaduras) que tem o poder de atualizar as leis, de modifica-las para adapta-las às novas situações.

O que quero dizer com isso é que mesmo um país e mesmo a ciência não são compreensíveis porque eles mudam a todo instante e suas leis também precisam mudar. Então, a compreensão de qualquer coisa é meramente temporal. Eu compreendo que uma caixa é quadrada e esta minha compreensão sobre ela será válida até o dia que ela for amassada e rasgada por meus gatos. Então, a minha idéia de caixa quadrada não corresponderá mais ao real. E isto é apenas um exemplo banal, porque todas as outras coisas do mundo se modificam e, a maioria delas, muito mais rapidamente que uma caixa.

Sendo assim, não acredito ser possível estabelecer leis. Mesmo leis de convivência como se propõe os dez mandamentos perdem a valia. Que dizer do "Não Matarás" em casos que muitos e inclusive eu, apoiamos, de legítima defesa, aborto ou eutanásia? Ou ainda, sabendo que mesmo quando desperdiçamos alimento ou quando compramos de empresas com ações na industria bélica, estamos indiretamente ferindo o tal mandamento?

Digo mais: se a morte é um processo natural e nós, seres humanos, somos parte da natureza, que surgimos em um processo evolutivo graças à interação com o natural, então, matar uma pessoa é um processo natural, a própria seleção natural funciona aí de maneira muito mais complexa do que conhecemos na aula de biologia. A industria e as transformações que o homem faz na natureza são processos naturais.

O artificial não é senão um subconjunto da natureza e quem terá a pretensão de ditar as leis da natureza? Eis que a natureza não é um processo acabado. Está em constante transformação - e somos parte disso - e não sabemos como ela reagirá nas próximas décadas então, é impossível compreende-la em absoluto.

Como já apontava Marx há dois séculos, perde-se tempo buscando a compreensão total do mundo enquanto ele está em constante transformação, convem então utilizar o que se tem de conhecimento para incidir ativamente sobre ele, transforma-lo. Isto significa que exista um sentido histórico ou uma missão para a humanidade? Não necessariamente, neste ponto é preciso discordar de Marx para não cair em um novo dogmatismo. A sociedade não tem um fim, nada precisa ser conservado e é preciso adaptar as estratégias que visem a liberdade nas relações sociais, a auto-superação nas artes e na ciência sem limites. O prazer sem culpa, a felicidade sem devoção. Não porque isto é o "fim da história" ou o certo a se fazer ou o mais científico, mas porque é uma forma de fazer a vida em sociedade valer a pena.

Nenhum comentário: